Cheguei ao restaurante da Universidade Federal do Maranhão e vi a fila, uma grande e interminável fila, todos à espera de chegar sua vez de entrar e poder matar a fome. Eu não era diferente dos demais, até conferia os passos para que acabasse aquela agonia. Contudo, assim que chegou a minha vez de entrar eu senti um misto de alegria e tristeza, uma vez que aquele era o ultimo dia de funcionamento. Segundo a diretora do restaurante Isabela Calado, as atividades seriam enceradas naquele dia 6 de julho, uma segunda feira e retomadas apenas no dia 24 de agosto.
Esta é apenas uma entre as mais de 2000 versões contadas por pessoas que frequentam o restaurante da UFMA todos os dias. O RU, como é popularmente conhecido, é o setor da universidade que fornece alimentação diária a estudantes, docentes e funcionários, além de pessoas da comunidade que utilizam seus serviços esporadicamente, por um preço bastante acessível, de R$ 1,25. Esse valor, se comparados a outros restaurante de universidades federais pode ser considerado alto. Na Universidade Federal Fluminense, por exemplo, a bandeja custa R$ 0,75, porém em outros lugares os restaurantes foram terceirizados ou até fecharam suas portas, como na UFRJ, devido à falta de recursos destinados especificamente aos restaurantes.
São nítidas as melhorias que o RU vem recebendo, principalmente.nos últimos dois anos. Foram adquiridos equipamentos como quatro câmaras frigoríficas, duas frigideiras industriais, um processador de alimentos e um forno combinado industrial. ”A prioridade para o segundo semestre é de colocar em funcionamento o sistema de catracas eletrônicas de forma integral, para assim poder abrir o segundo refeitório e atingir a real clientela, que são os estudantes e servidores.” Afirma a diretora do RU Isabela Calado.
Contudo, velhos problemas ainda puderam ser observados nesse primeiro semestre. Um deles, e sem dúvidas o mais estressante é o tamanho da fila, que normalmente é gigantesca. Para evitar os “fura-filas”, que se aglomeravam perto da entrada do restaurante, a equipe de segurança teve a idéia de colocar uma corda que percorresse grande parte da extensão da fila, para inibir o mau comportamento de alguns usuários que dificultavam o andamento da fila. Na opinião de alguns, a corda nos faz sentir como se estivéssemos no carnaval de Salvador, como conta Doracy Rodrigues, servidora da universidade. Outros têm uma visão menos radical da situação: “A princípio eu não gostei da idéia da corda, mas vi que ela ajudou a controlar o excesso de “fura-filas”, achei até que ficou mais rápida, apesar de ser mais intimidadora por conta do tamanho quilométrico” conta Guilherme Sirino, estudante do segundo período de odontologia. Os dois vão ao restaurante com freqüência.
O RU à noite
Durante o dia é um sufoco, uma longa espera e dificuldade para encontrar lugar para sentar. À noite, a situação se inverte; ninguém na fila, extrema facilidade para entrar, e uma imensidão de lugares vazios. Assim é a realidade do RU pela noite. Durante o dia o restaurante abre suas portas por volta das 10: 300, para dar conta de atender a grande demanda – mais de 1800 refeições. A equipe de serventes é formada por cinco pessoas, enquanto que dois ou três encarregam-se com uma pilha de bandejas e talheres sujos.
Em alguns dias o funcionamento chega até por volta das duas da tarde e enquanto houver gente na fila, continuam sendo servidas as refeições. Durante a noite são servidas no máximo 300 refeições por somente dois serventes, que ainda tem tempo de bater longos papos, pela falta de gente para servir. Até as bandejas parecem estar mais limpas e brilhantes, dá até para se pentear. Ao todo são 29 cooperadores que prestam todos os serviços diários no RU.
Balanceamento nutricional
Comer um alimento nutricionalmente balanceado é de grande importância para qualquer pessoa. Injetar em seu organismo a quantidade certa de cada substancia para que não sejam provocados danos ou excessos é condição essencial para qualquer estabelecimento que venda produtos alimentícios ser respeitado por seus consumidores. O RU está dentro das normas da vigilância sanitária, e conta com uma equipe de quatro nutricionistas, incluindo a própria diretora Isabela, e com uma chefia de abastecimento que fazem a seleção com relação à qualidade dos produtos e distribuição nutricional dos alimentos no cardápio de cada dia.
Existe um mito de que a comida do RU é de péssima qualidade, e que é posto até fermento no arroz, mas o que se vê na prática é uma realidade bem diferente. Quem está acostumado a ir ao restaurante elogia o sabor dos alimentos e o cardápio em geral: “A comida é relativamente boa, principalmente se considerarmos o preço que estamos pagando”, afirma Guilherme Cirino. Segundo a diretora do restaurante os recursos arrecadados com a venda de fichas suprem apenas 20% dos gastos com os alimentos. Mas há quem considere a qualidade da alimentação oferecida ruim. “Comi umas três, quatro vezes no RU, e achei a comida ruim, a carne é dura e mal assada”. Afirma a estudante de letras Natyara Araújo do primeiro período.
Outro ponto negativo a ser observado é a quantidade de alimentos que é desperdiçada no restaurante. Nas bandejas sobra grande quantidade de alimentos todos os dias, as vezes que não são nem tocados pelos clientes. “A função do restaurante é educar e nutrir a clientela, transformando seus hábitos alimentares” enfatiza Isabela. Hábitos alimentares são transformados, proporcionando uma alimentação mais saudável, mesmo quando a pessoa a princípio não gosta de determinado alimento. É como diz o ditado: “ruim com, pior sem”. No caso ruim com os alimentos que não gostamos, mas pior para a nossa saúde sem eles.